Caio, pt. II

Ana
2 min readJan 27, 2024

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há muito tempo sim que não te escrevo… ficaram velhas tantas notícias, mas hoje acordei a fim de tratar sentidos turbulentos e lembrei de você. eu continuo igual, sim. egoísta e pensando em demasiado. continuo pontuando minhas reflexões babacas e caretas por natureza, de mais a mais causando desconfortos vez ou outra. lembra quando ficávamos em silêncio por horas? não havia um comentário sequer e depois eu desatinava a falar e você me ouvia todas as palavras enquanto cutucava as próprias unhas. “veja bem, a liberadade de se prender é coisa do século passado” eu te disse acomodada no sofá. teus olhos sempre incapazes de enxergar o dia de amanhã. ficavam tão presos nas minhas costas que eu sentia um peso nos ombros no mesmo lugar onde apertam para aliviar a tensão. eu lembro que você falava pra caramba de arte e eu sempre esquecia de ouvir. os dias que não terminavam raiavam o sol e a gente se inventava de novo. soltos no espaço, ignorando os riscos de um outro mundo proibido. nossa pequenez tão infinita e eu sempre tinha que bancar a tua coragem, você corria e afundava os pés na lama. apontar o dedo para defeitos de terceiros é uma puta hipocrisia. e só quando ela se instala, me percebo. te digo que amar continua sendo um feitiço caro mas quem não é bruxa, é trouxa. o inferno sempre foram os outros e eu abro meus segredos como cartas na mesa só depois de mostrarem que sabem jogar. você sempre soube que eu só entro pra ganhar. essas nossas jornadas mesquinhas à procura de nós costuma mover a arte por dois caminhos: dos encontros e dos amores. eu soube que você está em busca da vida própria inventada, nunca deixou de estar. me contaram que continua imprevisível e pacato. fala mansa, vida de detalhes e confusões mentais. espero que um dia consiga parar de proferir essas palavras sujas e selvagens típicas dessa perversidade tão juvenil.

até mais.

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Ana

mistura heterogênea de múltiplas fases e faces